No ano que vem finalmente
chego à casa dos quarenta, e de todos esses anos de vida, trinta são dedicados
à música. Gosto de outros estilos de música além do rock, mas quem realmente
predomina é ele e seus subgêneros. Nos anos 80, entre o fim da infância e o
começo da adolescência o heavy metal tradicional, o Thrash metal, o black metal
e o death metal fizeram a minha cabeça e na década posterior tive contato com o
grunge e descobri de uma vez só dezenas de bandas da década de 1970, mas não
deixei de gostar desse para gostar apenas daquele, passei a ter contato com um
amplo e irrestrito universo musical de maneira clara e transparente,
verdadeiro.
Nunca tinha escrito
efetivamente sobre música. A minha experiência escrevendo eram algumas resenhas
de discos que eram passadas e repassadas entre os colegas na escola. Não
existiam blogs e como não era e nenhum nunca desejei ser jornalista fazia
daquela maneira amadora e mesmo assim sem compromisso às vezes era difícil
colocar as palavras no papel e demorava dias até mais de uma semana para
mostrar as minhas impressões sobre este ou aquele disco que tinha escutado. O
tempo da escola passou cada colega seguiu um rumo e eu nunca mais vi alguns,
porém outros camaradas da turma quando os encontrei recentemente me disseram
que são casados e não gostam mais de rock e nem de música.
Esses não sabem o que
perderam e o que estão perdendo, pois o mundo anda para frente e da década de
1990, muita coisa aconteceu inclusive na primeira década dos anos 2000. Sobre
os tempos atuais estou falando sobre o Mastodon que desde 2002 vem lançando
álbuns que oscilam entre ótimos, imperdíveis e clássicos deixando a sua marca e
ao mesmo tempo dizem a cada nota que tocam que rock não morreu e entram nesse
ano Once More Round the Sun, o sucessor de The Hunter lançado em 2011, para
renovar os votos com os seus admiradores.
Ouvindo o disco faixa a
faixa, a primeira coisa que se pode notar é que o quarteto fantástico não ficou
preso aos seus antecessores e por isso desde Remission (2002) um disco pegado no
som extremo, mas fazendo inúmeras concessões e diálogos com outras sonoridades dando
origem a sonoridade pesada, forte, consistente e inovadora, ou seja, a banda
criou a sua identidade algo muito difícil de acontecer, a todo o momento, no
cenário atual que no máximo, em sua larga maioria, tem entregado boas cópias do
que já foi feito no passado.
Depois de todas essas
considerações feitas sobre o grupo só resta falar sobre a experiência de ouvir
Once More Round the Sun. O som do álbum é contagiante e frita os ouvidos, o
cérebro com a sonoridade arrasa quarteirão de faixas como “The Motherload” e o
seu flerte com o pop e os ótimos refrãos. Uma das impressões passadas,
inclusive pela capa, é que o ouvinte está entrando em uma festa regada a substâncias
alucinógenas. Além do progressivo, o psicodélico também é experimentado com
sucesso em “Asleep in the Deep”. A viagem lisérgica não para e passa por “Aunt
Lisa” e seus riffs pesados e um excelente coro feminino.
O lado mais extremo do
Mastodon não ficou de fora e entra em cena com “Ember City”, mas mesmo assim
remete diretamente ao hard setentista, os riffs e solos delirantes de Brent
Hinds falam alto. Os anos setenta ainda estão no ar com “Helloween” cujas
melodias de bateria e guitarra puxam o ritmo. Fechando com chave de ouro essa
volta pelo sol “Diamond in the Witch House” oscila momentos cadenciados com
outros mais agitados, porém mais curtos e igualmente insanos, enfim é uma lição
e como se fazer stoner rock sub a influencia contundente do Black Sabbath entre
outros mestres do gênero.
Para alguns parece ficção
o que estou dizendo sobre o álbum, mas felizmente não é. Este álbum é daqueles
que são para a vida toda, ou seja, é daqueles que te pegam pelas mãos e te
levam para um daqueles roles intermináveis por paisagens surreais. Este convite
que Once More Round the Sun faz para mim e para você leitor exige calma e
paciência e isso implica abandonar o mundo a sua volta e partir para essa
viagem em torno do sol. Eu não sei qual é a sua relação com o grupo, mas no meu
caso o que sei é que cada vez mais giro, giro em torno desse sol iluminado e
escaldante que brilha sem parar.
Peço licença, pois vou dar
mais uma voltinha ao redor do sol e qualquer dia destes apareço para te contar.
Abraço!
Nenhum comentário:
Postar um comentário