terça-feira, 5 de agosto de 2014

Viajando ao Redor do Sol com o Mastodon


No ano que vem finalmente chego à casa dos quarenta, e de todos esses anos de vida, trinta são dedicados à música. Gosto de outros estilos de música além do rock, mas quem realmente predomina é ele e seus subgêneros. Nos anos 80, entre o fim da infância e o começo da adolescência o heavy metal tradicional, o Thrash metal, o black metal e o death metal fizeram a minha cabeça e na década posterior tive contato com o grunge e descobri de uma vez só dezenas de bandas da década de 1970, mas não deixei de gostar desse para gostar apenas daquele, passei a ter contato com um amplo e irrestrito universo musical de maneira clara e transparente, verdadeiro.



Nunca tinha escrito efetivamente sobre música. A minha experiência escrevendo eram algumas resenhas de discos que eram passadas e repassadas entre os colegas na escola. Não existiam blogs e como não era e nenhum nunca desejei ser jornalista fazia daquela maneira amadora e mesmo assim sem compromisso às vezes era difícil colocar as palavras no papel e demorava dias até mais de uma semana para mostrar as minhas impressões sobre este ou aquele disco que tinha escutado. O tempo da escola passou cada colega seguiu um rumo e eu nunca mais vi alguns, porém outros camaradas da turma quando os encontrei recentemente me disseram que são casados e não gostam mais de rock e nem de música.

Esses não sabem o que perderam e o que estão perdendo, pois o mundo anda para frente e da década de 1990, muita coisa aconteceu inclusive na primeira década dos anos 2000. Sobre os tempos atuais estou falando sobre o Mastodon que desde 2002 vem lançando álbuns que oscilam entre ótimos, imperdíveis e clássicos deixando a sua marca e ao mesmo tempo dizem a cada nota que tocam que rock não morreu e entram nesse ano Once More Round the Sun, o sucessor de The Hunter lançado em 2011, para renovar os votos com os seus admiradores.

Ouvindo o disco faixa a faixa, a primeira coisa que se pode notar é que o quarteto fantástico não ficou preso aos seus antecessores e por isso desde Remission (2002) um disco pegado no som extremo, mas fazendo inúmeras concessões e diálogos com outras sonoridades dando origem a sonoridade pesada, forte, consistente e inovadora, ou seja, a banda criou a sua identidade algo muito difícil de acontecer, a todo o momento, no cenário atual que no máximo, em sua larga maioria, tem entregado boas cópias do que já foi feito no passado.

Depois de todas essas considerações feitas sobre o grupo só resta falar sobre a experiência de ouvir Once More Round the Sun. O som do álbum é contagiante e frita os ouvidos, o cérebro com a sonoridade arrasa quarteirão de faixas como “The Motherload” e o seu flerte com o pop e os ótimos refrãos. Uma das impressões passadas, inclusive pela capa, é que o ouvinte está entrando em uma festa regada a substâncias alucinógenas. Além do progressivo, o psicodélico também é experimentado com sucesso em “Asleep in the Deep”. A viagem lisérgica não para e passa por “Aunt Lisa” e seus riffs pesados e um excelente coro feminino.

O lado mais extremo do Mastodon não ficou de fora e entra em cena com “Ember City”, mas mesmo assim remete diretamente ao hard setentista, os riffs e solos delirantes de Brent Hinds falam alto. Os anos setenta ainda estão no ar com “Helloween” cujas melodias de bateria e guitarra puxam o ritmo. Fechando com chave de ouro essa volta pelo sol “Diamond in the Witch House” oscila momentos cadenciados com outros mais agitados, porém mais curtos e igualmente insanos, enfim é uma lição e como se fazer stoner rock sub a influencia contundente do Black Sabbath entre outros mestres do gênero.

Para alguns parece ficção o que estou dizendo sobre o álbum, mas felizmente não é. Este álbum é daqueles que são para a vida toda, ou seja, é daqueles que te pegam pelas mãos e te levam para um daqueles roles intermináveis por paisagens surreais. Este convite que Once More Round the Sun faz para mim e para você leitor exige calma e paciência e isso implica abandonar o mundo a sua volta e partir para essa viagem em torno do sol. Eu não sei qual é a sua relação com o grupo, mas no meu caso o que sei é que cada vez mais giro, giro em torno desse sol iluminado e escaldante que brilha sem parar.

Peço licença, pois vou dar mais uma voltinha ao redor do sol e qualquer dia destes apareço para te contar. Abraço! 

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