segunda-feira, 2 de março de 2015

Rolando na Vitrola: Judas Priest - Point of Entry (1981)


Em 1980, o Judas Priest estourou, arrebentou e derrubou barreiras com British Steel e através dele mostrava a força do heavy metal britânico para o mundo, o som estava mais manso em relação à década anterior cujos álbuns Sad Wings of Destiny (1976), Sin After Sin (1977), Stained Class (1978), Hell Bent For Leather (1978) transbordavam velocidade, agressividade, peso e melodias que viraram de ponta cabeça a rapaziada. Os legítimos herdeiros do Black Sabbath. Os caras pegaram o gênero criado por seus conterrâneos e o levaram para outro nível e a partir dali criaram as bases para tudo o que se viu e ouviu nos anos de 1980.



British Steel já tinha sonoridade mais tranquila em relação ao passado recente, mas não havia perdido as características essenciais do grupo, o sucesso foi uma consequência de um trabalho que de fato tinha muito para dizer não apenas aos britânicos, mas para milhões de jovens nos outros cantos do ocidente. O sucessor de British Steel naturalmente geraria forte apreensão dos fãs e da imprensa, pois quando uma banda lança um grande álbum à tendência natural é que o próximo se não for melhor que ao menos repita o êxito de antecessor. Prevendo essa realidade, o próximo lançamento deveria ser uma continuação do anterior.

Nessa esteira a banda fez as malas e mandou para Ibiza, Espanha, e de outubro a novembro de 1980 gravaram o sucessor de British Steel. A produção dessa vez foi assinada por Tom Allon  e a banda. Como os caras haviam “amansado” som, ou seja, deram uma americanizada nele tornando-o palatável para o mercado norte-americano e, portanto, com o sucesso, a gravadora querendo aproveitar-se do momento pressionou para que saísse algo ainda mais comercial, mas o resultado não foi tão satisfatório, Point of Entry está muito longe de ser um álbum ruim, ou seja, trata-se de um disco que enquadra entre o muito bom e o excelente, porém existem nele algumas irregularidades que roubam-lhe o status de clássico.


A sonoridade desta vez oscilava entre o heavy metal, o hard rock, o pop e o progressivo, a mistura feita aqui apesar de deixar o álbum com uma dinâmica diferente deu ao grupo alguns hits que ainda hoje são presença obrigatória nos shows da banda. Foi isso o que os fãs puderam conferir no vigésimo primeiro dia de fevereiro de 1981 quando a bolacha desembarcou nas lojas.  O álbum provocou um sentimento de estranhamento nos fãs, pois era um álbum eclético, estranho por ser mal acabado e que parecia atirar em todas as direções e não causava o mesmo furor que o anterior.

Quando a agulha desliza pela bolacha e o som de “Heading Out To The Highway” que no primeiro momento deixava o fã animado, pois existia ali um resquício de British Steel, mas era visível que a sonoridade esta diferente, ou seja, mais leve com os pés no hard, porém não deixa de expressar a identidade do Judas Priest. Quando “Don’t Go” entra na sequência as coisas mudam de figura e você cai na real e entende que as coisas realmente estavam diferentes ali, mas não podia renegar aquela nova experiência que apesar dos pesares era excitante e instigava e aguçava os ouvidos a desbrava-lo, a sonoridade estava realmente mais moderada, cadenciada, melódica e pegajosa.


“Hot Rockin” retoma o espírito evil do Judas Priest e remete ao passado recente com heavy metal sem fazer concessões, a faixa até virou vídeo clipe. “Turning Circles” deixa claro o flerte com o pop, ela é daquelas típicas faixas de rádio cheia de melodias fáceis e vocais grudentos que pegam de primeira. “Desert Plains” é outro hit do álbum, mas aqui o lance é o flerte com o progressivo, mas ainda assim não é uma faixa fraca é daquelas que rompem barreiras, Halford estava em plena forma, e é assim que o primeiro lado termina. A aventura continua no outro lado e quem o começa é “Solar Angels” outro hit, a sonoridade também anda de braços dados com o progressivo e o andamento é cadenciado com destaque para as guitarras gêmeas de K.K Downing e Glenn Tipton.

Só que daí em diante fica nítida a falta de direção e entende-se porque parece que os caras estavam atirando para todos os lados. O lado pop reaparece com “You Say Yes” cuja sonoridade é mais na onda dos anos 50 (é a pior música que uma banda pôde compor, decepcionante), o flerte  continua com “All The Way”, mas essa é mais agradável pelo clima mais rock and roll. “Trobleshooter” traz o hard rock nas veias e pode ser um bom momento chega até dar uma melhorada na imagem do discos. “On The Run” termina o trabalho com dignidade e pela última vez resgata o heavy metal, mas ainda assim desliza pelo hard, mas mesmo assim é uma boa faixa que mantém acesa a dignidade do grupo.


O álbum teve duas capas uma para a Inglaterra e outra para os EUA, Japão e consequentemente para o Brasil também, porém não deixa de ser bonita, pois a imagem de uma estrada pavimentada no meio do deserto pode ser um convite para várias reflexões já que o som do Judas Priest tem letras que abordam o tema do cotidiano. O álbum dividiu opiniões na imprensa e entre os fãs e até hoje tem o dom de dividir e em alguns lugares é completamente repudiado e em outro é amado e tido como obra prima, mas passa muito longe de ser um trabalho abominável e poderia muito bem ser defendido num seção de álbuns injustiçado.

Essa relatividade em relação a ele, no caso, a boa é que a revista alemã Rock Hard o colocou na sua lista definitiva de 500 maiores álbuns de heavy metal de todos os tempos, onde aparece na 353º posição. O disco não foi comercialmente bem sucedido como British Steel, mas também não foi nenhum fracasso alcançou a 39º posição nos charts norte americanos alcançando o status de disco de ouro e no seu país de origem atingiu a 14º posição, o segundo a ser o mais bem colocado, ou seja, ficou na frente do sucessor, mas ficou apenas com um disco de prata, por ali, algo expressivo. A verdade que este é o álbum mais eclético dos caras e apesar de ficar “apagado” ou não, pois depende dos olhos e dos ouvidos de quem o ouve e julga, trata-se de um álbum instigante, desafiador que necessita de uma audição mais apurada e por isso é destinada a ouvidos mais refinados que sabem apreciar as diferenças e dar-lhes o devido valor. 

Faixas: 

01 Heading Out To The Highway
02 Don't Go 
03 Hot Rockin 
04 Turning Circles 
05 Desert Plains 
06 Solar Angels 
07 You Say Yes 
08 All The Way 
09 Troubleshooter 
10 On The Run 


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