Em 1980, o Judas Priest estourou, arrebentou e
derrubou barreiras com British Steel e através dele mostrava a força do heavy
metal britânico para o mundo, o som estava mais manso em relação à década
anterior cujos álbuns Sad Wings of Destiny (1976), Sin After Sin (1977),
Stained Class (1978), Hell Bent For Leather (1978) transbordavam velocidade,
agressividade, peso e melodias que viraram de ponta cabeça a rapaziada. Os legítimos
herdeiros do Black Sabbath. Os caras pegaram o gênero criado por seus
conterrâneos e o levaram para outro nível e a partir dali criaram as bases para
tudo o que se viu e ouviu nos anos de 1980.
British Steel já
tinha sonoridade mais tranquila em relação ao passado recente, mas não havia
perdido as características essenciais do grupo, o sucesso foi uma consequência
de um trabalho que de fato tinha muito para dizer não apenas aos britânicos,
mas para milhões de jovens nos outros cantos do ocidente. O sucessor de British
Steel naturalmente geraria forte apreensão dos fãs e da imprensa, pois quando
uma banda lança um grande álbum à tendência natural é que o próximo se não for
melhor que ao menos repita o êxito de antecessor. Prevendo essa realidade, o
próximo lançamento deveria ser uma continuação do anterior.
Nessa esteira a
banda fez as malas e mandou para Ibiza, Espanha, e de outubro a novembro de
1980 gravaram o sucessor de British Steel. A produção dessa vez foi assinada
por Tom Allon e a banda. Como os caras
haviam “amansado” som, ou seja, deram uma americanizada nele tornando-o
palatável para o mercado norte-americano e, portanto, com o sucesso, a
gravadora querendo aproveitar-se do momento pressionou para que saísse algo
ainda mais comercial, mas o resultado não foi tão satisfatório, Point of Entry
está muito longe de ser um álbum ruim, ou seja, trata-se de um disco que
enquadra entre o muito bom e o excelente, porém existem nele algumas
irregularidades que roubam-lhe o status de clássico.
A sonoridade
desta vez oscilava entre o heavy metal, o hard rock, o pop e o progressivo, a
mistura feita aqui apesar de deixar o álbum com uma dinâmica diferente deu ao
grupo alguns hits que ainda hoje são presença obrigatória nos shows da banda.
Foi isso o que os fãs puderam conferir no vigésimo primeiro dia de fevereiro de
1981 quando a bolacha desembarcou nas lojas. O álbum provocou um sentimento de
estranhamento nos fãs, pois era um álbum eclético, estranho por ser mal acabado
e que parecia atirar em todas as direções e não causava o mesmo furor que o
anterior.
Quando a agulha
desliza pela bolacha e o som de “Heading Out To The Highway” que no primeiro momento
deixava o fã animado, pois existia ali um resquício de British Steel, mas era
visível que a sonoridade esta diferente, ou seja, mais leve com os pés no hard,
porém não deixa de expressar a identidade do Judas Priest. Quando “Don’t Go”
entra na sequência as coisas mudam de figura e você cai na real e entende que
as coisas realmente estavam diferentes ali, mas não podia renegar aquela nova
experiência que apesar dos pesares era excitante e instigava e aguçava os
ouvidos a desbrava-lo, a sonoridade estava realmente mais moderada, cadenciada,
melódica e pegajosa.
“Hot Rockin”
retoma o espírito evil do Judas Priest e remete ao passado recente com heavy
metal sem fazer concessões, a faixa até virou vídeo clipe. “Turning Circles”
deixa claro o flerte com o pop, ela é daquelas típicas faixas de rádio cheia de
melodias fáceis e vocais grudentos que pegam de primeira. “Desert Plains” é
outro hit do álbum, mas aqui o lance é o flerte com o progressivo, mas ainda assim
não é uma faixa fraca é daquelas que rompem barreiras, Halford estava em plena
forma, e é assim que o primeiro lado termina. A aventura continua no outro lado
e quem o começa é “Solar Angels” outro hit, a sonoridade também anda de braços
dados com o progressivo e o andamento é cadenciado com destaque para as guitarras
gêmeas de K.K Downing e Glenn Tipton.
Só que daí em
diante fica nítida a falta de direção e entende-se porque parece que os caras
estavam atirando para todos os lados. O lado pop reaparece com “You Say Yes”
cuja sonoridade é mais na onda dos anos 50 (é a pior música que uma banda pôde compor, decepcionante), o flerte continua
com “All The Way”, mas essa é mais agradável pelo clima mais rock and roll. “Trobleshooter”
traz o hard rock nas veias e pode ser um bom momento chega até dar uma
melhorada na imagem do discos. “On The Run” termina o trabalho com dignidade e pela
última vez resgata o heavy metal, mas ainda assim desliza pelo hard, mas mesmo
assim é uma boa faixa que mantém acesa a dignidade do grupo.
O álbum teve
duas capas uma para a Inglaterra e outra para os EUA, Japão e consequentemente
para o Brasil também, porém não deixa de ser bonita, pois a imagem de uma
estrada pavimentada no meio do deserto pode ser um convite para várias
reflexões já que o som do Judas Priest tem letras que abordam o tema do
cotidiano. O álbum dividiu opiniões na imprensa e entre os fãs e até hoje tem o
dom de dividir e em alguns lugares é completamente repudiado e em outro é amado
e tido como obra prima, mas passa muito longe de ser um trabalho abominável e
poderia muito bem ser defendido num seção de álbuns injustiçado.
Essa
relatividade em relação a ele, no caso, a boa é que a revista alemã Rock Hard o
colocou na sua lista definitiva de 500 maiores álbuns de heavy metal de todos
os tempos, onde aparece na 353º posição. O disco não foi comercialmente bem
sucedido como British Steel, mas também não foi nenhum fracasso alcançou a 39º
posição nos charts norte americanos alcançando o status de disco de ouro e no
seu país de origem atingiu a 14º posição, o segundo a ser o mais bem colocado,
ou seja, ficou na frente do sucessor, mas ficou apenas com um disco de prata, por ali, algo expressivo. A verdade que este é o álbum mais eclético dos caras e
apesar de ficar “apagado” ou não, pois depende dos olhos e dos ouvidos de quem
o ouve e julga, trata-se de um álbum instigante, desafiador que necessita de uma
audição mais apurada e por isso é destinada a ouvidos mais refinados que sabem apreciar as
diferenças e dar-lhes o devido valor.
Faixas:
01 Heading Out To The Highway
02 Don't Go
03 Hot Rockin
04 Turning Circles
05 Desert Plains
06 Solar Angels
07 You Say Yes
08 All The Way
09 Troubleshooter
10 On The Run
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