Em 1969 começava
o fim de uma era e começa-se o preparo de outra tão brilhante quanto essa. Os
heróis começavam a morrer, primeiro Brian Jones no ano seguinte a perda seria
esmagadora, Janis Joplin e Hendrix empacotaram e a seguir eles foi Morrison,
que morreu em sua banheira, em Paris. Outros começariam a surgir antes dos anos
de 1960 cerrarem suas cortinas, o rock progressivo estava em processo de
formação, o gênero se caracteriza por ter faixas longas, mas mais do que isso
as influências vinham da música clássica, do jazz e outros gêneros de
vanguarda. Mais uma vez a Inglaterra, a Meca do rock, iria capitanear essa
invasão mundial em curso.
O King Crimson
foi formado em outubro 1968, mas só foi fazer o primeiro ensaio em janeiro de
1969 e a primeira apresentação rolou em junho do mesmo ano, no Hyde Park,
Londres, o Rei Rubro foi à banda de apoio dos Rolling Stones, mas só que tem um
detalhe: Eles roubaram a cena! Conquistaram o público, mais de quinhentas mil
pessoas, de primeira hora e mostraram algo novo e não era apenas o psicodélico,
mas ia além dos limites. A música composta e protagonizada por Fripp e seus
comparsas era como ele fazia questão de disparar sem qualquer constrangimento “autoconsciente”,
mas também se pode dizer “reflexiva”, “única”.
Assinaram
contrato com a Island Records, que passou a cuidar com diligência dos rapazes e
ainda neste mesmo ano entre julho e agosto gravaram o primeiro álbum e em
outubro a estreia vinilica dos britânicos chegava às lojas. O sucesso não foi
imediato e nem unanime entre a crítica, pois as críticas oscilavam entre
malhações severas e boas críticas à música do grupo. A sonoridade caminhava
pari passo com o blues, a música clássica e até com o rock mais pesado quase
heavy, mas a verdade é que era novidade o que eles faziam. Bandas
contemporâneas como Moody Blues, Pink Floyd e Soft Machine cada uma a seu gosto
e personalidade serviam-se desses gêneros que formaram a base do progressivo.
As influências
podem ter vindo do Soft Machine que na época já servia do jazz, o Pink Floyd
que já fazia um som caótico e cumprido cheio de experimentações, o Moody Blues
criador de temas orquestrados de belas melodias sentimentais, romantizadas.
Através de todo esse background, o King Crimson criou um som único etéreo,
espacial, hipnótico e original. A capa é emblemática, pois revelava a tristeza
e as angústia do mundo moderno, pois se você tirar o rosto fica de cara um
olhar triste e atormentado, esquizofrênico. A banda composta por Robert Fripp
(a força motriz do grupo), Greg Lake baixista e vocalista, o baterista Michael
Giles, Ian McDonald e seus vários instrumentos de sopro e Peter Sinfield, o
letrista, que beiravam o surrealismo quebraram barreiras.
A música emanada
dessa encarnação é mágica, filosófica ainda meio que aparentemente ingênua. O
som arquetípico, surreal e etéreo de melodias revelava a alma intrínseca e
transcendental levando a outro nível o rock que se pretendia reflexivo e
autoconsciente e talvez mais do que tudo singular. Canções que simplesmente
tocam na alma e hipnotizam logo nas primeiras notas, é assim que são as cinco
faixas de In The Court Of The King Crimson. A primeira composição "21st
Century Schizoid Man" um tema de guitarras nada leves e que se assemelhava
ao heavy onde o jazz corria com o pé no talo do acelerador, era um libelo pacifista
contra o Vietnã, pois naquela época como já mais do que sabia as coisas estavam
quentes naquele país, mas, além disso, a crítica se estendia a situação do
mundo daquela época.
“I Talk The Wind”
um som místico e viajante, hipnótico e suas melodias de flauta, a letra é um
homem conversando com o mundo que não podia escuta-lo, mas que trazia através
do vento as notícias dele. “Epitaph (Including March For No Reason and Tomorrow
and Tomorrow)” um tema melancólico e romantizado contando tristezas do homem
contemporâneo tocam fundo no coração. “Moonchild (Including The Dream and The
Illusion)” e sua poesia a lá Charles Buadelaire evocavam mais do que as
tristezas da esfera de prata, ou seja, evoca-se o os mistérios que a noite
esconda no fundo de cada coração solitário.
A procissão da corte
é encerrada com a faixa título, The Court of the Crimson King (Including The
Return of the Fire Witch and The Dance of the Puppets) remete a história por
nome do grupo, pois o King Crimson realmente existiu e foi um rei cruel e
sanguinário, que enfrentou vários distúrbios civis, a sonoridade remete aos
climas criados pelo Moody Blues, porém a diferença é a personalidade da faixa e
seus andamentos muito bem encaixados. Com a sua estreia, o King Crimson
delineou o que seria o rock progressivo que cairia como uma bomba sobre os
ouvidos na próxima década abrindo portas para um sem número de artistas
encarnarem cada um sua imagem e semelhança o que o King Crimson fez
brilhantemente.
Faixas:
A1. 21st Century Schizoid Man
(Including Mirrors) - 7:21
A2. I Talk to the Wind - 6:08
A3. Epitaph (Including March for No
Reason and Tomorrow and Tomorrow) - 8:52
B1. Moonchild (Including The Dream
and The Illusion) - 12:15
B2. The Court of the Crimson King
(Including The Return of the Fire Witch and The Dance of the Puppets) - 9:25
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