quarta-feira, 4 de março de 2015

Rolando na Vitrola: King Crimson - In The Court Of The King Crimson (1969)


Em 1969 começava o fim de uma era e começa-se o preparo de outra tão brilhante quanto essa. Os heróis começavam a morrer, primeiro Brian Jones no ano seguinte a perda seria esmagadora, Janis Joplin e Hendrix empacotaram e a seguir eles foi Morrison, que morreu em sua banheira, em Paris. Outros começariam a surgir antes dos anos de 1960 cerrarem suas cortinas, o rock progressivo estava em processo de formação, o gênero se caracteriza por ter faixas longas, mas mais do que isso as influências vinham da música clássica, do jazz e outros gêneros de vanguarda. Mais uma vez a Inglaterra, a Meca do rock, iria capitanear essa invasão mundial em curso.



O King Crimson foi formado em outubro 1968, mas só foi fazer o primeiro ensaio em janeiro de 1969 e a primeira apresentação rolou em junho do mesmo ano, no Hyde Park, Londres, o Rei Rubro foi à banda de apoio dos Rolling Stones, mas só que tem um detalhe: Eles roubaram a cena! Conquistaram o público, mais de quinhentas mil pessoas, de primeira hora e mostraram algo novo e não era apenas o psicodélico, mas ia além dos limites. A música composta e protagonizada por Fripp e seus comparsas era como ele fazia questão de disparar sem qualquer constrangimento “autoconsciente”,  mas também se pode dizer  “reflexiva”, “única”.

Assinaram contrato com a Island Records, que passou a cuidar com diligência dos rapazes e ainda neste mesmo ano entre julho e agosto gravaram o primeiro álbum e em outubro a estreia vinilica dos britânicos chegava às lojas. O sucesso não foi imediato e nem unanime entre a crítica, pois as críticas oscilavam entre malhações severas e boas críticas à música do grupo. A sonoridade caminhava pari passo com o blues, a música clássica e até com o rock mais pesado quase heavy, mas a verdade é que era novidade o que eles faziam. Bandas contemporâneas como Moody Blues, Pink Floyd e Soft Machine cada uma a seu gosto e personalidade serviam-se desses gêneros que formaram a base do progressivo.


As influências podem ter vindo do Soft Machine que na época já servia do jazz, o Pink Floyd que já fazia um som caótico e cumprido cheio de experimentações, o Moody Blues criador de temas orquestrados de belas melodias sentimentais, romantizadas. Através de todo esse background, o King Crimson criou um som único etéreo, espacial, hipnótico e original. A capa é emblemática, pois revelava a tristeza e as angústia do mundo moderno, pois se você tirar o rosto fica de cara um olhar triste e atormentado, esquizofrênico. A banda composta por Robert Fripp (a força motriz do grupo), Greg Lake baixista e vocalista, o baterista Michael Giles, Ian McDonald e seus vários instrumentos de sopro e Peter Sinfield, o letrista, que beiravam o surrealismo quebraram barreiras.

A música emanada dessa encarnação é mágica, filosófica ainda meio que aparentemente ingênua. O som arquetípico, surreal e etéreo de melodias revelava a alma intrínseca e transcendental levando a outro nível o rock que se pretendia reflexivo e autoconsciente e talvez mais do que tudo singular. Canções que simplesmente tocam na alma e hipnotizam logo nas primeiras notas, é assim que são as cinco faixas de In The Court Of The King Crimson. A primeira composição "21st Century Schizoid Man" um tema de guitarras nada leves e que se assemelhava ao heavy onde o jazz corria com o pé no talo do acelerador, era um libelo pacifista contra o Vietnã, pois naquela época como já mais do que sabia as coisas estavam quentes naquele país, mas, além disso, a crítica se estendia a situação do mundo daquela época.


“I Talk The Wind” um som místico e viajante, hipnótico e suas melodias de flauta, a letra é um homem conversando com o mundo que não podia escuta-lo, mas que trazia através do vento as notícias dele. “Epitaph (Including March For No Reason and Tomorrow and Tomorrow)” um tema melancólico e romantizado contando tristezas do homem contemporâneo tocam fundo no coração. “Moonchild (Including The Dream and The Illusion)” e sua poesia a lá Charles Buadelaire evocavam mais do que as tristezas da esfera de prata, ou seja, evoca-se o os mistérios que a noite esconda no fundo de cada coração solitário.

A procissão da corte é encerrada com a faixa título, The Court of the Crimson King (Including The Return of the Fire Witch and The Dance of the Puppets) remete a história por nome do grupo, pois o King Crimson realmente existiu e foi um rei cruel e sanguinário, que enfrentou vários distúrbios civis, a sonoridade remete aos climas criados pelo Moody Blues, porém a diferença é a personalidade da faixa e seus andamentos muito bem encaixados. Com a sua estreia, o King Crimson delineou o que seria o rock progressivo que cairia como uma bomba sobre os ouvidos na próxima década abrindo portas para um sem número de artistas encarnarem cada um sua imagem e semelhança o que o King Crimson fez brilhantemente.     

 Faixas:

A1. 21st Century Schizoid Man (Including Mirrors) - 7:21
A2. I Talk to the Wind - 6:08
A3. Epitaph (Including March for No Reason and Tomorrow and Tomorrow) - 8:52

B1. Moonchild (Including The Dream and The Illusion) - 12:15
B2. The Court of the Crimson King (Including The Return of the Fire Witch and The Dance of the Puppets) - 9:25     

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