Após uma
brilhante passagem pelo The Yardbyrds, o guitarrista Eric Clapton mergulha de
cabeça no blues e vai tocar na banda de John Mayall onde deixa registrado o
álbum Blues Breakers John Mayall with Eric Clapton (1966), que faz justiça a
sua fama e ao apelido "Deus" e dessa maneira estabelecera-se como um
músico de blues e sua passagem pela banda de John Mayall foi curta, pois o
guitar-hero abandonou-a pouco tempo depois do lançamento do álbum, e foi formar
um dos maiores e mais influentes power trios da história do rock, onde a sua
fama e prestígio subiriam a níveis inimagináveis de adoração e devoção por
parte dos seus adeptos.
Junto com seus
colegas, o baixista Jack Bruce e Ginger Baker (cuja escola é o jazz), Clapton
formou o Cream e ainda em 1966 a banda lança o seu primeiro atentado sonoro
Fresh Cream que na verdade é o verdadeiro culto ao blues e ao rock, totalmente
potente e ficou ainda mais forte aliado a psicodelia que levaria a banda a
caminhar por outros lados aonde o rock ainda não havia nem sequer chegado perto
e o momento apoteótico na carreira deste power trio chega com o lançamento de
Disraeli Gears (1967), era o auge e o sucesso andando lado a lado e mostrando ao
mundo que o grupo tinha competência cuja prova estava em faixas como Sunshine
of your Love, Strange Brew e World of Pain.
O grupo
após lançar outro grande álbum, o Wheels Of Fire (1968), é anunciado o fim precoce
de suas atividades pegando a todos de surpresa, mas quem pensa que o grupo se resume apenas aos álbuns de
estúdio está enganado, pois tem outro para se ouvir como: Goodbye (1969) e Live Cream Vol.1 (1970) e o Live Crem Volume. 2 (1972), onde toda a habilidade do grupo principalmente de Eric Clapton que simplesmente
barbarizava, aterrorizava e escandalizava nos seus longos solos e improvisos se
afloravam de maneira mágica enfim era uma viagem ácida demais para os ouvidos
alheios.
O guitarrista
partiu para outra empreitada e desta vez contava apenas com Ginger Baker seu
ex-companheiro de Cream e mais Steve Winwood vocalista do Traffic e o baixista
Ric Grech que somava em currículo passagens por bandas como o Family (onde
construiu a sua fama) e depois trabalhou como músico de estúdio para outras
caras como Rod Stewart, Muddy Water entre outros e assim o Blind Faith estava
pronto e o primeiro e último álbum do grupo Blind Faith (1969), um excelente
registro que a época foi mal sucedido comercialmente (mas a turnê foi bem
sucedida financeiramente) e hoje simplesmente transformou-se em um item
obrigatório para os fãs de rock e do guitarrista que pouco tempo também desfez
a banda e mergulhou profundamente no silêncio mantendo-se longe dos palcos.
Cansado da fama,
do burburinho em torno do Cream e do Blind Faith, apaixonado pela mulher do seu
amigo (o ex-Beatles George Harrison), e também pelo fato de ficar afetado pela
música do The Band (e manifestar interesse pedindo para tocar no grupo depois
do fim Cream) o músico cai na estrada para exorcizar os seus demônios e passa
excursionar como convidado da banda Delaney and Bonnie and Friends e durante
as suas andanças com o grupo, além de Delaney Bramlett ter tornando-se amigo
íntimo do guitarrista e tratar de encoraja-lo a voltar a compor e
continuar na estrada fazendo o que melhor sabia fazer cantar e destruir na
guitarra, essa passagem rendeu o ao vivo Bonnie & Delaney and Firends On Tour With Friends (1970), um álbum incrível onde Clapton arrebenta.
O jeito para
Clapton continuar com os seus ambiciosos planos foi começar se aproveitando da
banda de Delaney, Bonnie & Friends inteira cujo elenco trazia grandes nomes
da música como: o próprio Delaney (na guitarra base, backing vocals), Leon
Russel (que assumiu o piano), Bobby Whitlock (órgão e vocais), John Simon
(também no piano), Carl Radle (no baixo), Jim Gordon (na bateria), Jim Price
(trompete), Bob Keys (saxofone), Tex Johnson (percussão), Bonnie Bramlett
(vocais), Rita Coolidge (vocais), Sonny Curtis (vocais, The Cricktes), Jerry
Allison (vocais, The Crickets) e Stephen Stills (do Crosby, Stills, Nash &
Young também nos vocais) e agora depois dessa "pequena" lista de
músicos pensem qual seria o resultado final dessa parceria que se faz presente
em todo o disco.
Tem um detalhe
fundamental já que, Eric Clapton era fruto daquela época, pois o cara estava
vivendo ali dentro do furacão e assim como os músicos daquela época que seguiam
os passos do rock e também pelo ego se viam obrigados, impelidos a se
diferenciar a buscar a sua marca para apregoa-la nem que fosse a ferro, fogo,
suor, sangue e lágrimas, e daí o dilema: o que fazer, para onde ir? bom o blues e o
rock ficam, mas o que mais poderia ser testado? O line-up reunido para
gravar este disco seria algo fora do comum e mais uma vez os limites seriam
testados e por isso o country, o R&B e o Gospel entrariam na jogada e desse
diálogo que marca o período de transição de Clapton que começa a caminhar para
música pop, assim como fizeram os Rolling Stones poucos anos depois quando
lançou os clássicos Sticky Fingers (1971) e Exile on Main St. (1972).
Justamente nesse
esquema é que o novo som de Eric Clapton se encaixará e cada vez mais ao longo
da década irá persegui-lo. O disco foi produzido por Delaney Bramlett ao lado
do engenheiro de som Bill Halverson e a empreitada aconteceu em Los Angeles, na
Califórnia no Village Recorders e a outra parte rolou em Londres Island Studios e
o lançamento do disco ocorreu em julho de 1970, mais um clássico do rock estava
circulando livre por ai pronto para conquistar fãs e mais fãs e louco para
aumentar ainda mais a reputação de Clapton que anunciava o seu início no pop e
mostrava a sua versatilidade pela quantidade de estilos que entraram no seu
lidiquificador eram a prova definitiva que a música não tinha limites e poderia
caminhar para bem mais longe se fosse necessário.
O disco começa
com tudo com a jam session "Slunky" dona de belas linhas de sax e a
guitarra ensolarada de Clapton mandando riffs e solos muito bem encaixados num
ritmo alucinante tipico do blues. E este verdadeiro culto dá suas pintas de
clássico definitivo do rock, pop com uma seqüência matadora com "Bad
Boy" outro daqueles blues de arrepiar os cabelos cheios de malicia que te
faz parar e cantar o refrão grudento por horas a fio e a outra faixa a
"Lonesome and a Long Way From Home" já entra no esquema do gospel e
do R&B que na verdade serve como uma espécie de introdução para um dos
maiores hits da carreira deste cara "After Midnight (um belo cover de J.J
Cale que foi imortalizada com uma versão incrível no álbum ao vivo Rainbow
Concerts) um belo blues com a cara da nova fase do cantor e na sequência vem
calma balada acústica "Easy Now" e depois o disco volta a pegara fogo
na blues rock "Blues Power" (que também recebeu uma versão ainda mais
matadora cheia de solos num clima mais rock no álbum Rainbow Concerts) que aqui
conta com belos solos cheios de melodias.
E o disco segue
em frente com outra faixa excelente, a "Bottle of Red Wine" (que
também esteve presente no álbum Rainbow Concert e também ganhou uma versão mais
pesada calcada em poderosos solos e riffs de guitarra) e nesta gravação, aliás,
todas as faixas mostravam-se capazes de ir além do seu status original e caso
fosse necessário improvisar em cima delas para leva-las ao outro nível ainda
maior era possível e isso foi realmente comprovado no clássico Rainbow´s
Concert lançado em 1973, pois as faixas que constam no disco se estendem além
do tempo original. O country aparece em "Lovin' You Lovin' Me" e os
destaques aqui pelo vocais de Clapton que passeiam pela melodia sem quaisquer
problemas e isso denota a eficiência do cara neste trabalho.
O country
novamente ataca em "I've Told You For the Last Time" e o R&B
também tem sua presença garantida em "Don't Know Why" cheia de doses
cavalares de guitarra e fechando o álbum vem outro grande momento do álbum a
faixa "Let it Rain" puro pop rock com refrões grudentos cujas
melodias instrumentais são igualmente grudentas, enfim uma faixa iluminada pela
inspiração do mestre e Clapton e sua família que pode ser considerada uma
reunião de gênios. Dessa reunião
de gênios seria fornecida a base para a próxima empreitada de Clapton em forma
de banda, ou seja, nasceria daí o Derek and the Dominos cujo resultado seria um
dos maiores clássicos da carreira do grupo, o romântico, Layla and Other
Assorted Love Songs (1970), seria a declaração de amor que já começava pela sua
polêmica capa, para Patty Boyd na época esposa de George Harrison (ex-Beatles).
Esta banda ainda o acompanharia por várias caminhadas durante a década de 1970,
época em que o astro viu-se perdido nos vícios (álcool e drogas). Esta aqui uma
verdadeira obra prima que o tempo fez questão de preservar e torna-la
obrigatória para o fãs do velho e bom rock 'n' roll cujo lema é quebrar
barreiras e não se restringir a padrões estéticos e por isso pôde ajudar a
construir as bases do pop e ao contrário do que muitos pensam não é descartável
(já que foi pervertido pela indústria e transformado, convertido em música de
consumo barato e raso visando lucros rápidos) e aqui ainda temos a
possibilidade de vislumbrar as possibilidades de uma época que se faz tão
presente em nossas vidas e mostra o nascimento de um gênio e sua criação
atemporal sempre disposta a mudar a vida de alguém e assim como mudou a minha
pode mudar a sua e por isso abra a cabeça e entre nesta viagem sem medo de ser
feliz.
Faixas:
A1. Slunky - 3:34
A2. Bad Boy - 3:33
A3. Lonesome and a Long Way From
Home - 3:30
A4. After Midnight - 2:51
A5. Easy Now - 2:55
A6. Blues Power - 3:06
B1. Bottle of Red Wine - 3:05
B2. Lovin' You Lovin' Me - 3:19
B3. Told You for the Last Time -
2:30
B4. Don't Know
Why - 3:10
B5. Let It Rain
- 5:01
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