Começava a
década de 1970, a Jovem Guarda já era coisa do passado e, portanto era
necessário seguir em frente e esse passo em frente obrigava a mudar, ou seja,
era necessário “recomeçar”, reinventar-se visando deixar o passado para trás.
Erasmo Carlos entra no ano de 1971 com um álbum, o sétimo de sua carreira, um
dos mais importantes dela. Os temas adolescentes ficaram para trás lá no álbum
de lembranças, pois agora o lance era mais sofisticado e eclético também, pois
o figura fez algo inédito. Gravou uma verdadeira obra prima da música popular
brasileira misturando rock, MPB e o soul, cujos dois últimos foram a mola propulsora da
bolacha.
Intitulado Carlos, Erasmo, o álbum, foi estreia do Tremendão na gravadora Philips (responsável por colocar os discos do Chico Buarque, Caetano e muitos outros no mercado brasileiro). A parada era vida realmente nova, ou seja, era um negócio boca quente. A produção foi do Manuel Barebein (que até aquele momento havia assinado a produção de vários álbuns dos Mutantes, ou seja, cássicos) e de Nelson Motta (aquele que escreveu a biografia do Tim Maia e depois passou por cima do que disse naquela barbeiragem da Globo no filme, que foi transformado naquele show de horrores), o trabalho da dupla contribuiu positivamente para o sucesso do trabalho, que se tornou um clássico da música brasileira.
"De Noite na Cama" é quem faz as horas de abertura, ela é uma composição de Caetano Velloso que enviou-a especialmente para o Tremendão, a sonoridade é o samba rock que já nessa altura tinha Jorge Ben como protagonista, o som é de arrepiar e a letra faz apologia a erva. Na faixa "Masculino Feminino" rola a parceria (dueto) com Marisa Fossa, balada que remete ao psicodelico. Apesar do fim da Jovem Guarda, a parceria com Roberto Carlos não foi para o espaço, ela foi mantida e pode ser conferida em seis canções das treze que pertencem ao álbum a primeira delas a entrar em cena é a "É Preciso dar um Jeito Amigo" e aqui o som vai nas ondas vibrantes do soul. "Dois Animais na Selva Suja da Rua" é rock vibrante e impressiona pela qualidade dos arranos de cordas que deixaram-na bem pesada.
"Gente Aberta" também uma balada acústica com boas linhas de guitarra mostram a criatividade do músico, que estava em alta a procura de sua identidade que saia de fininho por todos os lados e notas, melodias. A psicodélica "Agora Ninguém Chora Mais" é uma composição de Jorge Ben, enfim é porrada. "Sodoma e Gomorra" é uma ótima reflexão lisérgica sobre o mundo daqueles dias, que não era muito diferente do tempo que retrata a bíblia. O funk de "Mundo Deserto" é o lado radical desse disco tão profundo, denso e muito complexo. "Não te Quero Santa" é uma balada para ouvir colado com a namorada isento da estupidez machista.
"Ciça Cecília" é o soul em seu estado de graça, os arranjos, os coros são avassavaladores, ela virou tema da novela global "A Próxima Atração". "Em Busca das Emoções Perdidas N°2" anda na estrada da MPB com belos duetos vocais acompanhados de arranjos instrumentais acústicos com a voz de Erasmo deslizando tranquilamente sobre eles simplesmente demais. "26 Anos de Vida Normal" samba-rock composto por Marcos Valle (que ano seguinte lançaria o clássico Vento Sul, um dos grandes álbuns da música popular brasileira), que ganhou um clima especial na voz de Erasmo. "Maria Joana" fecha o álbum fazendo e também tem ali uma satira com a palavra Marijuana, ou seja, a canabis sativa, em clima latino ao som das rumbas da Caribean Steel Band.
Se existe uma definição concreta na música para as palavras arriscar, dar um tiro no escuro, ela estão em Carlos, Erasmo..., um artista poucas vezes entregou tudo o que tinha e foi tão bem sucedido em sua empreitada. A mistura soul, funk, rock casou perfeitamente somada a paisagem rural da capa do álbum apresentando a versão hippie atirada de cara no desbumde, ou seja, a nova versão de Erasmo Carlos. O disco é tão importante pelo que ele representou e ainda representa, ou seja, é atemporal e faz cair o queixo daqueles que pensam o autor como cantor de músicas romântica, o disco foi incluído na lista dos 100 maiores álbuns da música brasileira pela filial brasileira da revista norte americana Rolling Stone.
Atualmente ele encontra-se nas lojas em vinil, relançado pela Polysom e também em, pois foi lançada a caixa Três Tons de Erasmo, que além dele trás outros dois álbuns seminais "Sonhos e Memórias 1941-1972 (1972) e a Banda dos Contentes (1976), que marcam essa mudança radical que deixou a Jovem Guarda lá no passado. Este álbum ainda é o mais importante e dinâmico dentro da discografia do Erasmo, pois ele traçou a nova personalidade intrinsica e eclética, é o melhor passaporte para entrar no trabalho dele.
Faixas:
1 De Noite, Na
Cama
2 Masculino,
Feminino
3 É Preciso Dar
Um Jeito, Meu Amigo
4 Dois Animais
Na Selva Da Rua
5 Gente Aberta
6 Agora Ninguém
Chora Mais
7 Sodoma E
Gomorra
8 Mundo Deserto
9 Não Te Quero
Santa
10 Ciça, Cecília
(Tema De Ciça)
11 Em Busca Das
Canções Perdidas Nº2
12 26 Anos De
Vida Normal
13 Maria Joana
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