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Quem pensa punk nasceu na Inglaterra está
redondamente enganado, pois o pai dele conhecido como Malcom McLaren fez curso
e estágio antes no EUA, e durante a sua estada na terra do tio Sam fez barulho
não apenas vendendo as suas extravagantes roupas, mas ao empresariar uma banda
de caras que se vestiam e pintavam-se como mulher, ou seja, o New York Dolls,
mas antes desses caras ainda temos que falar do ponta pé dado lá atrás com o
The Stooges e com o MC5, pois daí para adiante as coisas se desenrolaram
incrivelmente bem, pois até uma poetiza o gênero tinha, a Patty Smith, os
Ramones é quem deram o ponta pé na coisa e fizeram o negócio pegar fogo com o
debut incendiário.
Os EUA são mesmo a terra das oportunidades,
das grandes invenções não apenas tecnológicas, mas também de grandes revoluções
sonoras. A agressividade, a insanidade, a poesia e o niilismo do Velvet
Underground foram o combustível para esse famigerado gênero transgressor, o
punk rock. A cidade de New York nunca foi à mesma depois daquela explosão
atômica, o CBGB o grande templo vibrava noite à após noite com toda esta
efervescência que dominava os corações, as almas e refletiram nitidamente o
espirito daqueles dias cujo legado iria a lugares inimagináveis.
A história do Television começa quando Tom
Verlaine e Richard Hell, montaram a banda Neon Boys em 1971, os outros
integrantes como Billy Frica e Richard Lloyd chegaram depois para completar o
time e o nome também mudaria e o escolhido foi Television. Richard Hell saiu em
1974. No seu lugar entrou Fred Smith, que antes era baixista do Blondie e
depois de finalmente resolver os problemas
de formação da banda que se estabilizou com esse line-up os caras no
mesmo lançaram um single e no ano de 1976, os caras assinaram com Elektra
Records (que teve no cast Iggy Pop e MC5 que nesses dias faziam parte do
passado). Em 1976, com a produção do próprio Verlaine e o engenheiro de som
Andy Johns (que foi creditado como coprodutor) gravaram Marquee Moon em
setembro no A & R Recording, em New York City.
Só que ao contrário do que o Ramones, o Dead
Boys faziam os rapazes do Television investiam em uma sonoridade mas complexa
cuja elaboração os aproximava as influências de
bandas como a de Neil Young e os seus Crazy Horses, The Doors e por ai
vai. Apesar dessa influência rock os caras tinham suas influências do jazz, o
som estilo jam session. O som homeopático, hipnótico e eclético dos caras
colocava-os em outra dimensão sonora, pois aquele som refinado e sentimental,
poético a sua maneira era o portal para outras dimensões ainda não exploradas.
O disco chegou às prateleiras nova-iorquinas
em fevereiro de 1977 e no Reino Unido em apenas no quarto dia de março, a mídia
especializada caiu de amores pelo disco, o público idem. Também não era para
menos, pois quando você deita a agulha sobre a bolacha e logo na abertura tem
“See no Evil” um tema mais do que sugestivo e cheio de fantasias e
possibilidades ilimitadas, um rock and roll sem firulas, narrativo, de uma beleza
singular. “Venus” é outro grande momento, pois além das referências de Verlaine
as suas experiências psicodélicas (LSD) e também “cai nos braços de Venus de
Mileto”, uma torrente de emoções em constante mudança, alterações de
pensamento.
Em “Friction” os solos de Verlaine transitam
entre a sobriedade e a insanidade, mas
passam a maior parte tempo na segunda trilhando um caminho sem volta, ou seja,
uma passagem só de ida para os recônditos da mente. Fechando o lado A, temos
talvez a música mais poderosa do disco, a épica, Marquee Moon onde o jogo de
guitarras gêmeas condensou bem suas influências e pôs para fora o som
avant-garde jazzistico e junto a esse pano de fundo existe ai as paisagens
urbanas noturnas muito bem narradas de forma poética. Apesar das letras
tratarem de assuntos urbanos, ou seja, de lendas Marquee Moon não é um álbum
conceitual, mas é um retrato fiel do cotidiano.
O lado B abre com “Friction” que além de ter
um clima hipnótico tem na linha de frente belos solos de Verlaine, enfim um
mimo para ser repetido até a exaustão no silêncio da noite no seu quarto.
“Guiding Light” é a balada, ou seja, todo o disco de rock tem a sua reserva
romântica onde o artista apresenta a sua versatilidade e aqui Verlaine e seu
companheiro Lloyd fazem exatamente isso, mas esbanjam um talento único difícil
de ver por ai. “Prove It” é perfeita, ou
seja, imagética e sintetiza toda a paisagem narrada por Verlaine e sua turma.
“Tom Curtain” e sua instrumental melancólica e os vocais lúgubres resumem a
obra neste grande final mais do que apropriado.
Apesar das críticas favoráveis na sua própria
terra Marquee Moon não foi comercialmente bem sucedido, pois não registrou
vendas superiores a oitenta mil cópias e, portanto, nem entrou nas paradas da
Billboard 200, o sucesso do disco aconteceu no Reino Unido onde se firmou na
28° posição no UK Album Charts e por ali as vendas foram alavancadas pelo
artigo de duas páginas escrito pelo jornalista Nick Kent da NME, que os colocou
na capa da revista e também chamou a assessoria de imprensa da Elektra Records,
que por sua vez apoiou a banda a trabalhar no sucesso adquirido no Reino Unido.
A capa do álbum é de autoria de Robert
Mapplethorpe, que dois anos atrás havia feito a capa de Horses de Patty Smith.
Marquee Moon marcou o fim de uma fase dourado do CBGB, porém o legado
sobreviveu e foi a base, ou seja, a pedra angular para o rock alternativo
praticado por bandas como o Pixies e muitas outras, e além disso o álbum
figurou em várias listas dos melhores de muitas publicações como a Mojo e a Q
Magazine que o elencou na sua lista de 200 melhores álbuns do Punk, a revista
Rolling Stone por sua vez o colocou na sua lista de 500 melhores discos de
todos os tempos. Uma coisa é certa, pois apesar de ser clássico desde seu
nascimento e depois do fim, em 1979, é que o Television e os seus integrantes
fizeram a sua obra definitiva, pois no segundo álbum Adventure de 1978 e mas
suas carreiras não chegaram perto se quer do brilho e da magia de Marquee Moon.
Outra coisa certa é que este álbum agrada em cheio qualquer fã de música
independente do gênero.
Lista de músicas:
A1 See no Evil A
A2 Venus
A3 Friction
A4 Marquee Moon
B1 Elevation
B2 Guiding Light
(autoria de Verlaine e Lloyd)
B3 Prove It
B4 Tom Curtain